Quando ganhei minha primeira moto, em 1972, uma Honda CB350 linda, verde metálica, zerinho, andei nela quase sem parar por uns 2 ou 3 dias. Meu saudoso e queridíssimo pai dizia "Renzo, desse jeito vc vai acabar derretendo o motor dessa moto..."
Pois bem, estou do mesmo jeito com este novo blog. Nunca imaginei ter um e postei varias coisas antes mesmo do site estar completamente pronto. Ontem até pensei em deletar os "antigos" e recomeçar, mas segui o velho ditado japonês: JAKETÁ, KEFIKE. Mistura de touro com aquário e dragão dá nisso. E vamos em frente.
Agora o site está pronto, as apresentações para prospects (em publicitês seria mais ou menos as empresas que eu gostaria virassem parceiras)já estão prontas, céu de brigadeiro, mil idéias boas e muita disposição. Estou pronto para a largada e á medida que a pré-produção evoluir vou relatando, assim vocês acompanham.
Aqui está a ultima matéria que escrevi, na tentativa de transformar um fato desagradável em algo útil para mais pessoas. Serve para reflexão geral e para os jovens verem que mesmo com experiência e idade, a gente também faz cagada e enfim, para disseminar o habito de investirmos em segurança. Boa leitura e...comentem á vontade, vamos conversar.
ALMA SELVAGEM NA ESTRADA: RELATO DE ACIDENTE
Vou falar de um assunto desagradável: cair, tomar um chão, comprar um lote, beijar o asfalto, tomar um ralo, enfim, uma coisa que tem muitos nomes e quando acontece a maioria prefere esquecer, apesar de alguns contarem como se fosse uma façanha, com uma ponta de orgulho. Minha intenção é falar a respeito com muita humildade, para que as pessoas pensem um pouco a respeito. Aí terá valido a pena.
Como muitos já sabem, um dos capítulos do meu filme “Alma Selvagem, amor por motocicleta” trata dos Encontros Motociclísticos e para mostrar o que acontece em um, filmamos o Tiradentes Bike Fest de 2007. Portanto achei quase obrigatório ir para Tiradentes neste ano e disponibilizar o filme para o publico, o que fiz com a ajuda de grandes amigos como o Berg, seu filho Jordano e do Arnold e sua turma da griffe Hot V2.
Saí de São Paulo na manhã de quarta feira, muito animado com a viagem solo, só eu e Cássia Eller (minha Guzzi Jackal 1100), escape livre, pneus encima, bem equipado, friozinho gostoso...(reparem no capacete aberto).
Depois de rodar quase 400 km, no final de uma serra antes de Lavras, nas pistas duplas da Fernão Dias e no fim de uma seqüência de curvas feitas “no talo”, aconteceu o imprevisto: perdi o ponto de freada antes de uma curva e isso fez com que errasse a tangência. Quando vi que não daria pra fazer a curva, só pude tentar diminuir o impacto e entrei com tudo na mureta central.
Parece incrível quanta coisa passa pela nossa cabeça em centésimos de segundos, mas lembro que me preocupei em não passar por cima da mureta, caindo na pista do sentido contrário. Parece que consegui (pois aqui estou), mas a pancada foi forte. Bati ainda em boa velocidade mas bem de lado- e ricocheteamos de volta para a pista. Me vi caído no meio da pista e á minha direita ficou a moto. Por sorte não perdi a consciência, levantei imediatamente e vi que um cara grande já tinha parado no acostamento e corria em minha direção. Num instante apanhamos a moto e a puxamos para o acostamento e um minuto depois passou uma carreta a milhão. Depois outra, outra e outra... Por coincidência (?) houve essa pequena pausa, que foi no momento certo, pois poderia virar um hambúrguer temperado com micropedaços de Guzzi. Depois de alguns minutos, ajudado por algumas pessoas que pararam, verificamos que eu estava bem, sem nenhum osso quebrado e com o raciocínio claro, então eles me “deixaram” continuar a viagem.
Parei numa borracharia para desentortar o paralama e vi que quebrou o farol principal e um auxiliar, o suporte das bengalas, espelho, guidom torto, manoplas, pedal do cambio e cavalete lateral. As bolsas rígidas laterais salvaram os cabeçotes proeminentes do motor da Guzzi, ufa... Demos um jeito em tudo, a moto continuava alinhada e fui em frente, até Tiradentes, que já fervilhava com a chegada de gente de todo o país.
Mas o principal -e este é o motivo de eu estar escrevendo esta matéria- foi o que NÃO aconteceu comigo por um único motivo: estar muito BEM EQUIPADO e claro, um anjo da guarda profissional.
Estava usando equipamentos dos meus parceiros no filme: jaqueta e calça de cordura da SBK, luvas, botas e o ótimo protetor de coluna da BannyPel e capacete integral da CMS. Normalmente uso jet, mas em estrada normalmente uso casco integral. Se nesse dia estivesse com o capacete aberto rasparia a minha barbicha (minha mãe odeia) sem usar barbeador. As proteções nos ombros, cotovelos, pulsos e joelhos ficaram no asfalto. As luvas grossas foram comidas até pegar de leve na minha pele. O protetor de coluna impediu maiores torções e saiu arranhado também. As imagens explicam melhor, mas agora, mais do que nunca, entendo a importância de andar equipado, especialmente na estrada. Se estivesse menos protegido, ficaria ralado, talvez bem machucado e com certeza de molho por varias semanas.
Nem todos os motociclistas são imprudentes como eu sou ás vezes, mas imprevistos acontecem e espero que as pessoas entendam que, assim como todos correm para equipar um carro novo, é importante investir equipando a nós mesmos para andar de moto.
Enquanto escrevo, olho minhas mãos e penso no estado que estariam se estivesse sem luvas...
Depois do acidente, no dia seguinte, achei que não conseguiria nem andar, mas como a alma é selvagem e eu tinha uma missão a cumprir, comecei uma maratona em Tiradentes, que durou até o fim do evento. Mesmo andando meio de lado, consegui fazer tudo o que precisava e desta vez posso dizer que consegui viver plenamente o Tiradentes Bike Fest.
Agora entendi melhor o que motiva tanta gente a viajar para se encontrar. Fiz tantos novos amigos que nem começo a escrever, senão fica longo e ainda por cima corro o risco de esquecer de alguns. Fotos de lá eu não tenho, pois a câmera fotográfica quebrou na queda, mas tenho imagens em vídeo, que depois pretendo editar e publicar.
O mais importante desta viagem foi o que aprendi:
Que preciso deixar de ser idiota e andar mais devagar nas estradas.
Que estradas não são pistas e que não tem áreas de escape com brita.
Que andar a 80% do meu limite, é tão gostoso como andar a 97%.
Que não posso confundir a realidade com meu playstation.
Que vale muito a pena investir em equipamento de segurança.
Que 2 centésimos de distração anulam várias horas de concentração.
É isso. Naquela noite, na deliciosa Pousada Cantagalo, ouviram-se muitos gemidos.... e enquanto fazia com as compressas de gelo, fiquei imaginando se a primeira carreta tivesse passado segundos mais cedo. Pensei em como é bom estar vivo, pensei na minha mulher, em meus filhos, em meu neto e... por isso achei que valeria a pena escrever a respeito.
Uma sensação não me abandonou até hoje: sempre me julguei um bom piloto, mas pretendo melhorar ainda mais, diminuindo a velocidade e aumentando a distância entre o que faço e o meu limite. A vida é boa demais para ser colocada em risco tão estupidamente e espero que meu relato sensibilize outros motociclistas. Se isso acontecer, o acidente terá sido útil.
Nos vemos nas estradas!
Renzo Querzoli, julho de 2008
quarta-feira, 23 de julho de 2008
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Um comentário:
lindo isso.... Amen!!!
deu pra ver que o casco nao abriu mas expandiu a mente Vossa.....
mais legal ainda o fato de que mostras ao companheiro camarada de duas rodas seus pensamentos... seguro estou de que muitos vao precisar levar o tombo e aprender a propria licao, mas creio e boto feh que suas palavras vao mudar a historia.... oxala ainda houvesse compaixao assim em todas as coisas do mundo... aposto que os motociclistas do encontro te deram o maior apoio e ofereceram muita ajuda....
o que o Amor une (pelas duas rodas) nem deus separa!!!
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