sábado, 6 de setembro de 2008

Aventuras de um coroa de alma selvagem parte 1:




A quinta-feira parecia maravilhosa. Reunião confirmada numa cidade a 300 kms daqui, manhã fresquinha antes do solzão de setembro, óleo novo no motor, pneus calibrados... Saí de Sampa antes das 8:00 porque odeio chegar atrasado, então fui tranquilo,até para ver quanto kms por litro a minha Guzzi faz andando a 110. Já chegando ao meu destino, depois de 250 km, fui parado no posto da polícia rodoviária e ...gelei. Em um instante, lembrei que estava com o licenciamento vencido e, para resumir, o policial era um daqueles de cinema americano, antipático e absolutamente intransigente. Bem ao contrário da enorme maioria da Corporação da Polícia Rodoviária.

Claro que eu estava errado em circular com documentos “em desordem”, não discuto isso. Mas passei mais de uma hora explicando que estava indo para uma reunião de trabalho super- importante, que estava sendo agendada e preparada fazia tempo, que era importantíssimo chegar na hora marcada com os diretores e de como era importante para mim. Ele só repetia que era norma e que iria reter meu veículo. Quando vi que não teria jeito, pedi que me deixasse continuar por 50 kms, fazer a reunião e na volta deixaria a moto lá com eles, enfim, tentei absolutamente todos os argumentos mas ele foi irredutível. Os colegas dele, que chegaram depois, eram pessoas normais e deixaram claro que por eles, me liberariam só com uma multa, mas o .... rapaz achou que voltar atrás seria uma prova de fraqueza ou de baixa masculinidade. É importante dizer minha aparência era de um senhor de 56 anos, indo para uma reunião de business: camiseta pólo preta, jeans preto, bota, jaqueta de cordura preta, enfim, só digo isso para que ninguém pense que eu parecia um Hell Angel ou um porraloca mais abrasileirado. Enfim, foi totalmente broxante e sem ter mais o que fazer ou dizer, fui pedir carona na beira da estrada para voltar a Sampa.

Atravessei a pista de asfalto fervente que parecia gelo perto da temperatura do meu sangue, e sentado no guard-rail resolvi que não seria um contratempo desses que iria me segurar. A alma selvagem grita mais do que a testerona, não teme chuva, frio, nem pessoas de má índole, então liguei para o diretor da empresa e avisei do contratempo. Quando ele disse que poderia me receber a qualquer hora, então atravessei a pista de novo indo para o sentido SP-Interior e -fuzilando com o olhar o guarda só-sigo-o-manual- me posicionei bem em frente a ele, esticando o braço, polegar em riste, durante 55 minutos. Detalhe: 10 graus de umidade (secura Dakariana) e quase 40 de temperatura ambiente. O cara deve ter tido espasmos de alegria e felicidade ao ver a minha dificuldade, de roupinha escura e fritando ao sol, mas finalmente uma pessoa legal parou e me deixou na cidade para onde eu ia. Chegando lá, peguei pela primeira vez na vida um moto-taxi, para me levar á fabrica. E aqui juro, meus amigos, que prefiro pegar uma garupa com o Casey Stoner bêbado, na marginal do Tietê, arrepiando na chuva, com areia e óleo misturada do que andar do jeito que andei.

A CGzinha estava com a coroa desdentada e dava trancos o tempo todo. Como eu tinha meu capacete, o cara pilotava com o segundo casco dele na mão esquerda e de um jeito que nunca vi: ele acelerava tudo e assim que podia, apertava a embreagem e ia na banguela, para gastar menos gasolina. Depois, para retomar a velocidade anterior ele acelerava forte, gastando em dobro. Ah, reduzir nem pensar, ele ia em frente cortando o transito, para não perder velocidade e... economizar gasolina. Bom, como chegamos inteiros até o bairro industrial eu nunca saberei dizer, mas cheguei.
E depois dizem que pára-quedismo é esporte radical...

A reunião foi ótima. Conheci um homem de marketing digno desse nome, coisa rara nos dias de hoje e espero que eles topem ser nossos parceiros do Alma 2. Após a reunião um motorista da empresa me deixou na rodoviária, peguei um busão com ar-condicionado que nos levou em ritmo de passeio de Harley Davidson até Sampa. Foram mais de 5 horas para fazer 300 kms, que usei para me acalmar, pensar em como a vida pode ser tragicômica e em como resgatar minha Cássia Eller e tirá-la daquele páteo o mais rápido possível. Mas deve ter sido bom para ela, dormir naquele céu super-estrelado, numa região linda. A Cássia tem comigo uma vida bem emocionante e engraçada, pensando bem. Continuo amanhã.

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